A Foz do Rio Preguiças / MA - Foto de Carla Todesco em julho/10

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Superadobe ou terra ensacada

A história da criação dessa técnica de bioconstrução remete ao arquiteto iraniano Nader Khalili (1936-2008), que desenvolveu o superadobe como opção para construções na Lua ou em Marte, utilizando-se apenas de solo local e sacos de plástico. Estranho? Um tanto, mas sabe que a Nasa publicou seus estudos e que a técnica de Khalili virou uma espécie de alternativa para o planejamento e desenvolvimento de casas para sem-teto pelas Nações Unidas? Pois é, e a coisa não para por aí.

Vale muito a pena visitar o site do Cal-Earth e conhecer mais detalhes sobre o superadobe. Aqui no Brasil já tem muita gente testando a técnica, especialmente os grupos de permacultura e bioconstrução. Há até uma versão tupiniquim, que utiliza sacos de cebola ou batatas, opção que reduz custos e simplifica ainda mais o processo de construção.

É verdade que o jeitão da arquitetura em superadobe pode soar estranha para muitos de nós. Originalmente, as casas construídas em superadobe eram circulares, com abóbadas que possibilitavam a construção da casa inteira com um único material e técnica. Se imaginarmos a dificuldade de levar materiais para a lua, por exemplo, fica mais fácil conceber a ideia. Bastaria incluir na nave espacial uma grande bobina de saco plástico e, na Lua, preencher sacos e mais sacos com solo do nosso satélite natural. Ficou mais simples?

Bom, outra vantagem é a possibilidade de construções baratas e ecológicas para reduzir o déficit habitacional na Terra. E é aí que entram as inovações feitas a partir da ideia original: é possível construir casas, digamos, mais convencionais, em formato quadrado ou retangular, por exemplo. Os sacos podem ser queimados com maçarico para aceitar revestimento de terra e pintura natural, deixando a obra com um acabamento mais “normal” – para quem gosta de uma arquitetura mais discreta...

O fato é que a novidade (para nós, porque em muitos lugares ela já é usada há tempos) vem ao encontro de muitas necessidades do nosso século: dar conta de tirar das ruas ou de moradias insalubres milhões de pessoas, reduzir o custo socioambiental da construção civil e oferecer alternativas de construção que cabem em processos de mutirões organizados por comunidades, gerando autonomia para populações em situação de risco. Quer mais?

Ok, vamos lá: construir com terra gera habitações saudáveis, que não expõem os moradores a produtos químicos tóxicos que agem devagar e continuamente, causando doenças como dores de cabeça, problemas respiratórios e até câncer. Há muitos estudos que tratam dos danos provocados pelo aumento da diversidade de materiais industrializados que colocamos, cada vez mais, em nossas casas. Casas de terra respiram, trocam ar com o ambiente externo, são termicamente confortáveis e muito duráveis e seguras também.

É claro, temos uma montanha de preconceitos para transpor até que consigamos realmente enxergar a técnica como viável ou minimamente pensável. Mas se aceitamos incluir produtos tão pouco testados em nossas vidas (alimentos, produtos químicos, cosméticos, ondas eletromagnéticas e tudo mais), por que abrir mão de algo tão inofensivo e interessante? Faço um convite a todos para que procurem se informar e ajudem a divulgar essa técnica. Acredito no mix entre soluções high tech e ideias muito simples para compor a lista de boas práticas que farão diferença no nosso século. Que tal, vamos nessa?

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