A tradição brasileira em tratar seus rios e córregos como acidentes geográficos a serem transpostos tem sua materialização mais perversa na forma de apropriação de suas várzeas.
Nossos rios e córregos vêm sendo negligenciados como elemento da paisagem urbana, tratamento este recorrente na maioria das nossas cidades, nossos rios foram canalizados e retificados e nossos vales tornaram-se grandes avenidas.
A várzea do Tamanduateí tem um alto índice de apropriação e uso antrópico e foi ocupada prioritariamente por indústrias, as áreas ocupadas por habitações são prioritariamente horizontais o que ocasiona neste território um alto índice de impermeabilização do solo em contrapartida ao baixo índice demográfico.
A dinâmica do ciclo das águas e suas cheias sazonais ao se depararem com este cenário antropizado têm a sua função ambiental prejudicada, uma vez que este compartimento ambiental não mais exerce a função de retenção e absorção do excedente hídrico o que acarreta em frequentes inundações.
A forma de enfrentamento destas inundações, pelo poder público, tem sido pautada em intervenções estruturais de cunho sanitarista e sob a ótica de garantir a operação do sistema do transporte motorizado.
A solução adotada freqüentemente é a construção de reservatórios de detenção, muros, sifões, alteamento de pontes e estações de bombeamento, que além de dispendiosos, contribuem pouco para a qualidade ambiental. Esta forma de intervenção causa no sítio uma cicatriz de difícil reversão, induzindo ainda mais a ocupação na área de várzea sem as devidas precauções ambientais.
A necessidade de reavaliar as formas de ocupação e o seu planejamento considerando a função ambiental desta várzea poderia garantir a manutenção de uma pequena parcela deste território ainda não espoliado, com o intuito de inibir o avanço destas formas de intervenção determinantes para os impactos em áreas ambientalmente sensíveis[1].
[1] Segundo definição encontrada em artigo publicado pelo SEMASA, Secretaria do Meio Ambiente do Município de Santo André, uma Área Ambientalmente Sensível é um território “que contém características naturais ou culturais de grande valor para o funcionamento dos ecossistemas” suscetível a risco pela ação antrópica.
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